Conheça a Vó Noêmia, 82 anos de amor ao Inter e um endereço de dar inveja.

Nesta tarde de sábado (12), tive um dos dias mais legais como colorado. Não teve título, não teve nem jogo, mas sim uma conversa que me remeteu ao passado tão lindo que o nosso Internacional possui.



Dona Noêmia, a Vó Noêmia, colorada de todos os costados, 82 anos, nascida em Santana do Livramento e tem um endereço de dar inveja em qualquer um dos 8 milhões de colorados espalhados pelo mundo. Todo dia pela manhã, sua primeira paisagem é o Gigante da Beira-rio na janela do seu quarto. Acompanha o Inter durante todo o seu dia. Seu rádio é ligado desde a hora que acorda até a hora adormecer. Sabe tudo! Jogos, jogadores, histórias coloradas e muito mais. Acompanhou o Inter nos Eucaliptos e ajudou a erguer o Gigante com doações. Criou filhos e netos tendo o Beira-rio como pátio, e sempre manteve o amor colorado soberano na sua família. Foi uma tarde vermelha, uma tarde mais que especial.

 Após acompanhar sua página no Facebook, onde seu neto Gonçalo faz posts de frases, fotos e vídeos da vó acompanhando o Inter combinei uma visita para conhecer a Vó Noêmia. Espontaneidade é a sua marca, porém com opiniões sempre abalizadas de quem conhece do riscado. Primeira coisa que me mostra são as suas relíquias. Fotos dos netos vestidos de Inter dos pés a cabeça (Até um que desandou pro lado azul, segundo ela), camisas antigas do colorado, cada uma com a sua história, e fotos com o Pelé e Puskas, durante uma visita a Buenos Aires na década de 60. Pensar o que, dessa senhora que jogou uma aliança de noivado na cara do noivo uruguaio que tocou flauta após o Maracazo de 1950?


Segue abaixo, uma amostra, da nossa “charla”.

Catimba: Quem é a Vó Noêmia?
Vó: "Sou Noêmia Martins Fontoura, 82 anos, já nasci colorada, morava no interior no tempo que só tinha o rádio. Ali eu já acompanhava futebol. Aliás, nasci em fazenda e meus pais eram colorados."

Catimba: Como começou seu coloradismo?
Vó: "Eu tinha um tio que não tinha filhos. Depois que me mudei para a cidade de Livramento, ele me levava nos banquetes do 14 de Julho (Clube de Livramento), então desde pequeninha, eu fui levada pra esse lado de gostar de futebol. Ele me levava para o campo, assim fui aprendendo a gostar de futebol. Depois casei, tive filhos e vim morar em Porto Alegre. Porém antes de mudar, eu ja vinha a Porto Alegre e ia nos Eucaliptos. Aí quando me mudei de vez, em 1967, comecei a cuidar do Inter (risos). Eu tinha 5 amigos que me levavam ao campo, pois diziam que eu era pé quente. Assim foi crescendo o sentimento de ver o Inter."

Catimba: Qual foi seu primeiro ídolo e o mais recente?
Vó: "Bom, primeiro Figueroa e Falcão. Como eu estava longe na época dos ídolos mais antigos, eu não morava em Porto Alegre ainda, eu não tinha muito contato. Mas na época deles, eu já andava pelo Beira-rio. Então tinha aquela aproximação. Era mais fácil chegar mais perto. Não posso esquecer do Marinho Perez, um querido. Depois deles, ídolo mesmo, Fernandão e D'Alessandro. Fernandão não dá para explicar, era diferente. O amor que ele tinha, o entusiasmo que ele tinha, a coragem que ele dava pro time. Um rapaz que veio de Goiás, e o amor que ele nos deu não tem explicação. Já o D'Ale não existe. Ele é diferente. Acho que nem fabricando um sai igual, nem com xerox (risos). O D'Alessandro é um pessoa muito especial pra mim e para o Inter. Ele é torcedor como nós. Acho que isso é do argentino, pois eu tava no treino, e o Ariel foi tirar foto com a torcida, sem se importar que não é ídolo, mas ele tava la. Eu queria ter tirado uma foto com ele. Não tem ninguém como o D'Ale, parece que quando ele te ve, parece que ele ta vendo um amigo. Não posso esquecer do Abel! Ah, eu amo o Abel! (risos)"

Catimba: Qual foi seu jogo inesquecível?
Vó: "Pra mim foi o do primeiro campeonato brasileiro. Aquele jogo contra o Cruzeiro foi demais, pois eles também tinham um time muito bom, tinha o Nelinho que batia faltas. Mas aquele gol iluminado foi muito emocionante, pois o Inter não tinha todo esse status ainda fora do RS, então aquele título abriu os caminhos para o Inter ser gigante. Foi maravilhoso."

Catimba: Vó, como é morar aqui? Como é abrir todo dia a sua janela e ver o Beira-rio?
Vó: "Ah, é maravilhoso. Não tem coisa mais linda. Pra mim, nesses meus 82 anos, vendo vitórias e derrotas, é um presente. Pois quando o Inter ta mal, me torno mais colorada ainda. Pois ai eu acho que o clube precisa mais da gente. E morar aqui é lindo. Eu já me mudei 4 vezes pra frente do Beira-rio. Agora não saio mais, apenas morta (risos).


Catimba: Como é a sua rotina? Como a Vó acompanha o futebol?
Vó: "Eu vejo 24 horas futebol. Eu acordo e já ligo meu rádio. Tenho rádio em todos os cômodos do apartamento. Ligo a TV na Fox, no Sportv. To sempre vendo futebol. Eu sempre dormi pouco, então escuto rádio e vejo TV das 07:00 até as 03:00 da manhã. Durmo escutando o Rafael Colling, gremistão, só pelo jeito de falar, e acordo ouvindo o Macedo, outro gremista (risos).

Catimba: A vó vai ainda ao campo?
Vó: "Agora não muito, vou pouco. Estou com problema de visão. Vou quando meu neto me leva, prefiro que ele me acompanhe. Mas antes eu ia sempre! Hoje o namoradinho da minha neta, que é colorado daqueles praticantes (risos), também me acompanha. Não senta um minuto, grita e briga. Ele é corneteiro (risos), eu mando ele sentar e ficar quieto (risos), mas ele é um amor. Mas eu sinto o ambiente aqui da minha janela e o rádio sempre ligado, rádio é meu companheiro. Contra a Ponte to lá!"
Gonçalo: "As vezes acho que ela ta falando algumas bobagens, falando notícias falsas, mas aí só depois eu fico sabendo que ela escutou primeiro no rádio (risos)."

Catimba: "Gonçalo, como surgiu a idéia da página? A vó acompanha a repercussão?"
Gonçalo: "Bom, eu postava sempre alguma frases de efeito da Vó no meu facebook, e meus amigos curtiam muito, pois ela tem opiniões bem próprias e com muito conhecimento em futebol. Aí fiz a página para os colorados, que serve também para registrar toda essa vida que a vó teve em torno do Inter. Sem falar, que os parentes do interior recebem notícias da vó através das postagens. Eu já fiz algumas coisas com a vó pra faculdade, então quis arquivar ainda mais esse conteúdo. Sem falar que ela me fez colorado, pois sou de família de gremistas. Então quis mostrar todo esse coloradismo dela, pois ela que me fez aguentar aqueles anos 90, dizendo que a nossa hora chegaria de novo."
Vó: "Ele não me mostra o que acontece na minha página! Minha filha vem aqui e tem que me mostrar o que estão falando. Tem até uns gremistas que gostam, tem uns que são gente boa. Ah, o Gonçalo não quis jogador, esse não quis! Eu levava ele no Beira-rio pra jogar."
Gonçalo: "Nem é pra tanto, é coisa de vó mesmo (risos)."


Catimba: E quando o Gabiru faz o gol, Vó?
Vó: "Foi uma loucura. Foi demais. Iarley pra mim foi gigante. O gol do Gabiru mostrou bem a cara do Inter. O gol de um jogador humilde, que a imprensa e a maioria da torcida não gostava. Pra mim foi demais. O Iarley ter voltado pro clube foi demais, ele é um incentivo pra juventude. Um dos acertos dessa gestão é ter trazido ele pra perto de novo. Tinham que fazer com o Gabiru também, deixar ele ai, pelo menos pra porteiro! Pagar um salário e deixar ele pra torcida colorada ver todo dia de jogo e agradecer! (risos)"

Catimba: Quando em jogo do Inter, a Vó tem alguma superstição?
Vó: " Claro, mas não posso falar! Vai que fazem contra nós. Mas tenho sim! Pode ter certeza que tenho."
Gonçalo: "Conta em off, vó."
Vó: "Vou contar, aí tu faz também (risos)."

Catimba: O que a Senhora espera pra esse final de ano e pra 2017?
Vó: "Vamos fazer 10 pontos! Vamos sair dessa! Se depender dos meus santos, eles não ganham nada e nós saímos dessa! Ah, e espero que o D'Ale volte, nem que seja pra bonito!"

Catimba: Deixa uma mensagem pro torcedor, vó!
Vó: "Peço que a torcida não abandone. Não deixe de lado nosso Inter. Eu nunca vou abandonar o Inter, sempre vou apoiar. O Inter é gigante de demais."

Agradeço ao Gonçalo, que tornou possível esse bate-papo, e principalmente a Vó, por me receber em sua residência.

Curta a pagina da Vó: https://www.facebook.com/noemiavo


Conheça a Vó Noêmia, 82 anos de amor ao Inter e um endereço de dar inveja. Conheça a Vó Noêmia, 82 anos de amor ao Inter e um endereço de dar inveja. Reviewed by Redação on 17:55:00 Rating: 5

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